As experiências dos médicos com colegas inescrupulosos ou incompetentes, a sua capacidade de captar essas atitudes e a sua disposição para as denunciar
sexta-feira, 17 de setembro de 2010

 

Introdução

A maioria dos erros que não causam prejuízos aos pacientes são devidos a falhas do sistema de saúde, mas há uma componente importante que se deve à inabilidade pessoal ou à ausência de compromisso de determinados profissionais. Os instrumentos mais úteis para identificar estes maus médicos são, sem dúvida, o controlo da actuação profissional e as denúncias dos colegas; no entanto, o reduzido número de denúncias que efectivamente se realizam demonstra que aí radica a parte mais vulnerável da situação. Este estudo reflecte os resultados de um inquérito realizado para determinar a maneira de pensar dos médicos norte-americanos e as atitudes que realmente assumem perante o problema da incompetência de outros colegas.
 

Esquema

Inquérito de atitudes, representativo a nível nacional.
 

Contexto

Indagação efectuada com o apoio de um instituto universitário dos Estados Unidos.
 

Pacientes

A população não era de pacientes, mas de profissionais. Foram enviados questionários a 2938 médicos que praticavam medicina em 2009, nas áreas de anestesiologia, cardiologia, cirurgia geral, medicina familiar, medicina interna, pediatria e psiquiatria. Obteve-se resposta de 1891 profissionais, 64,4% do total.
 

Intervenção

Não houve intervenção clínica. Os médicos consultados deviam responder em que medida se sentiam preparados para fazer frente a) ao problema da incompetência profissional dos colegas e b) o problema da falta de escrúpulos ou a falta de compromisso. De acordo com o esquema do questionário, deviam expressar primeiro o que pensavam, e em segundo lugar o que estavam dispostos a fazer em concreto. A composição das perguntas é indicada de seguida.
I. Os profissionais podiam declarar-se "bem preparados", "bastante", "pouco" e "muito pouco preparados" para julgar os seus colegas. Na tabulação posterior dos resultados, as categorias "bem" e "bastante preparados" combinar-se-iam num mesmo grupo positivo, e as categorias "pouco" e "muito pouco preparados" num mesmo grupo negativo.
II. No parágrafo seguinte os profissionais deviam responder com "sim" ou com "não" a duas perguntas. A primeira, "Nos últimos três anos de prática profissional, pôde comprovar que um colega seu do hospital, clínica, consultório ou equipa de trabalho se encontrava incapacitado para o exercício da medicina, ou cumpria as suas obrigações de maneira inescrupulosa?"; a segunda pergunta focava "Essa comprovação levou-o a denunciar esse colega a qualquer instância (centro de assistência, organização profissional, autoridade administrativa)?". Para além disso, os participantes deviam declarar se em algum momento dos últimos três anos tinham tomado a atitude de se abster de formular tais denúncias em função de alguma razão ou convicção pessoal.

 

Principais Medidas de Evolução

Não se pode falar de "evolução", mas de aspectos considerados. As três questões que o inquérito procurava esclarecer eram: 1) o ponto de vista pessoal dos profissionais sobre estes problemas, 2) a sua disposição para formular denúncias concretas, e 3) as experiências realmente vividas com colegas incompetentes ou inescrupulosos.
 

Principais Resultados

Indicam-se os principais resultados do inquérito.

-- Consideravam estar bem preparados, para fazer frente ao problema dos médicos inescrupulosos, 1208 participantes (69%), e ao dos incompetentes 1126 (64%).
-- Um total de 1120 médicos (64%) declarou-se disposto a sustentar o compromisso profissional de denunciar.
-- 309 (17%) médicos tinham tido conhecimento pessoal directo de um colega incompetente no seu ambiente de trabalho. No grupo dos que tinham tido essa experiência, 204 tinham formulado uma denúncia concreta pelo menos uma vez (67%).
-- Os que se mostravam mais inclinados para formular denúncias eram os médicos de hospitais ou escolas de medicina. Os mais reticentes eram os que tinham títulos profissionais de universidades estrangeiras e os membros de minorias étnicas.
-- A razão que foi apresentada com mais frequência para não formular uma denúncia era a suposição de que alguém já se tinha ocupado do problema (58 participantes, 19%); de seguida vinha a presunção de que nada aconteceria (46 participantes, 15%), e o medo das represálias (36, 12%).

 

Conclusão

De acordo com um inquérito ao qual responderam quase dois mil profissionais dos Estados Unidos, os médicos acreditam maioritariamente que é preciso denunciar perante as autoridades competentes a incapacidade ou a falta de escrúpulos dos seus colegas. No entanto, na prática, a maioria opta por não formular nenhuma denúncia.
 

Fontes de Financiamento

IMAP, Institute on Medicine as a Profession, Universidade de Columbia, Nova Iorque, E.U.A